23 de junho de 2021
Eu decidi fazer a transição capilar um pouco antes de começar a pandemia. Já tinha deixado de usar química no meu cabelo pra alisamento há algum tempo e também tinta. Só estava fazendo escovinha mesmo com frequência quando decidi entrar na transição. Março de 2020.
Na época eu ainda estava morando nos EUA e o custo de ir no salão era muito alto e tava pesando. Eu que sempre me vi comentando que o cabelo liso facilitava a minha vida porque ele num dá trabalho, me vi doida pra querer entender esse trabalho de verdade. Foi um momento de decisão que aconteceu do nada, mas não foi do nada.
Sempre cuidei muito da minha aparência. Faço as unhas desde muito nova e sob influência do Diário da Princesa de 2001, acredito que não fui a única adolescente influenciada pela onda do cabelo liso perfeito. Já levei muito o meu cabelo pra terapia. Na real, o trabalho da imagem é uma pauta que já rolou muito no divã. Não vou entrar em detalhes do divã, mas gravei um vídeo contando os pontos fundamentais da transição e o que isso tem a ver com o ano de foco no natural que estou vivendo.
Eu entendi que eu sempre tentei controlar meu cabelo e sempre achei ele um liso que não funcionava, incontrolável, que me dava uma aparência desleixada. Eu, que trabalho com organização, aparecer descabelada? JAMAIS! O que irão pensar de mim? A vaidade tem dessas né. A gente entra em um lugar vazio se preocupando com o que o outro vai achar.
Cuidado é diferente. Cuidado é oferecer condições para que o cabelo possa ser o que ele é em sua forma mais bonita. Como ele quiser e todo dia! Eu tinha muita dificuldade de aceitar elogios quando usava o cabelo 100% liso. Tinha dificuldades absurdas de aparecer online se o meu cabelo estava um milímetro fora do lugar. Sair do lugar de controle pro lugar de cuidado fez muita diferença pra mim na transição capilar que está me ajudando a encontrar uma Gabriela que ficou presa em chapinhas e progressivas por 18 anos.
O The Curly Girl Method me ajudou a entender as principais orientações para transição e educação capilar. Abaixo a listinha que cito no vídeo.
A rotina é uma adaptação também. O tempo que eu ia no salão fazer uma escova pra dias (meu cabelo é seco e dura um monte), é um pouco mais curta do que a que eu tenho hoje pois lavo o meu cabelo com mais frequência. E amo isso!
Lavo o cabelo de duas a 3 vezes na semana. Quando eu lavo uso uma toca difusora com secador no modo frio pra dar aquela secada no cabelo enquanto me maquio. Isso ajuda a não dar muito frizz. Também me organizo pra fazer hidratação no banho uma vez por semana e nutrir o cabelo mensalmente.
Hidratação: Sempre ****que o cabelo estiver sem brilho, volumoso e ressecado ele pede hidratação. Esta etapa é muito importante porque diariamente o cabelo perde umidade, então hidratar é preciso sempre…mesmo para cabelos oleosos uma boa hidratação nunca é demais.
Nutrição: O seu cabelo tem muito frizz, está armado e poroso, nutrição neles….Esta etapa vai repor as necessidades lipídicas do cabelo, além de ser uma forte aliada da hidratação. Vai domar a cabeleira, dar brilho e alinhar os fios.
Reconstrução: Seu cabelo está quebradiço; fino frágil ou elástico ele precisa de uma reconstrução. Esta etapa é utilizada principalmente após alguma química que agride muito o córtex do cabelo pois ela abre as escamas capilares. Desta forma uma reconstrução age como um cimento selando estas escamas.
Todo esse ano de aprendizado com o projeto da transição capilar me fez entender a naturalidade um pouco mais. Me aproximou do lugar de cuidado comigo mesma para níveis além do cabelo. Quando temos mais controles, somos mais rígidos e qualquer coisinha é motivo pra alarde. Ao longo dos últimos meses fui notando uma nova Gabriela.
Março – Maio / 2020: O início da transição teve muito a ver com troca de produtos, entendimento dos lugares novos de rotina. O meu cabelo tava muito grande e começou a pegar as ondas nas pontas aos poucos.
Junho – Julho/2020: Fui percebendo aos poucos as combinações de produtos e o que fazia ele ficar com aspecto mais definido. Teve um momento que eu cheguei a achar que ele estava perfeito! Mas essa imagem do perfeito, de novo, não existe! O meu cabelo estava lindo e eu estava recebendo mil elogios, mas um dia ele e eu acordamos virados e eu cortei ele todo errado no maior impulso no meio da pandemia com os salões todos fechados. 😢
Foi um momento muito simbólico pra mim. Mais um que virou sessão de terapia. O elogio, a imagem, o afeto, o auto cuidado. O receber. No meu caso era eu recusando algo que tenho dificuldade de receber, mas que é importante pra mim.
Agosto – Outubro/2020: Fui no salão que fazia escova e a cabelereira que costumava me atender cortou o meu cabelo. Não ficou lá muito natural e me vi mais uma vez tentando controlar. Passei muito gel no cabelo pra tentar ganhar mais controle e definição, mas o cabelo ficava duro, eu mal podia passar a mão. Não queria mais essa imagem da dureza e do que não muda. Não combina comigo a imagem do estático. Fui deixando de usar o gel e percebendo as ondas do jeito que elas eram de verdade.
Novembro – Dezembro / 2020: Quando voltei a morar no Brasil, o tempo mudou e meu cabelo mudou com ele. Segui na lógica de deixar ele se apresentar. Entendi que tenho um cabelo 3A, aberto. Ele pode fazer cachos, ondas e pode alisar. Ele pode ser de tudo um pouco. Assim como eu.
Janeiro – Junho 2021: A transição me fez me sentir mais livre. O vento vai continuar soprando, a água vai continuar ao meu redor e eu sou um ser diferente agora entre esses elementos, porque permito-me o despentear, o embaraçar, o frizz. E também permito-me o cuidado, a criatividade e o estilo! Posso e me permito ser múltipla. Vai muito além do cabelo. 😉
O cabelo cacheado me faz entrar em contato com uma Gabriela mais sensível e afetuosa. Me mostrou na prática a lição da flexibilidade: que é se adaptar às diversas circunstâncias para acomodar o que se é. Às vezes a gente tenta fazer algo acontecer de um jeito controlado, quando na verdade o melhor caminho é o cuidado.
Eu não tenho como controlar o meu cabelo e nem quero fazer isso mais. Quero usar da flexibilidade e dar a ele condições para se apresentar da melhor forma que pode ser. E se eu quiser alisar, oras por que não? O bom do autoconhecimento é que a gente começa a associar cada uma de nossas experiências de vida, projetos e vivências como algo que nos faz conhecer um pouco mais de nós mesmos. A transição me aproxima de uma Gabriela mulher que estou adorando conhecer.
Na Comunidade TRILHAS você encontra o suporte para sua Jornada de Organização.