27 de junho de 2023
Há cerca de dois anos e meio, encontrei-me solteira após um divórcio doloroso. No limbo do luto pós-romântico e na incerteza da pandemia, me encontrei na necessidade de exercitar meu “músculo social” para compreender como voltar a estar em uma relação – uma tarefa que não foi nada fácil.
Em uma relação, somos chamados para trocar constantemente recursos valiosos: tempo e atenção. Como ouro e prata do nosso eu interno, esses dois elementos nem sempre são abundantes ou bem gerenciados.
Durante esses dois anos, apaixonei-me uma vez, e essa experiência me sacudiu inteira. Alguns amigos disseram que eu precisa de uma baguncinha como aquela na minha vida. É, talvez eu precisasse mesmo do caos da paixão. Ela, em sua intensidade cegante, me fez reconsiderar o tempo, transformando-o de um recurso a ser aproveitado para um espaço a ser tomado.
Só que hoje em dia as relações estão meio descartáveis. Líquidas, como Bauman escreveu por aí. Tudo é usado e trocado com facilidade e na rapidez dos desejos, o que não é imediato não tem vez.
Relações não imediatas. Daquelas que se abrem com o tempo e que se permitem conversas e descobertas, estão cada vez mais raras. Pelo menos pra mim, que não consigo estar na superfície. É preciso tempo para construir uma relação.
Falei em outro texto como não são os opostos que se atraem, são os dispostos. A disposição, é uma atitude que temos em relação a fazer alguma coisa ou a estar com alguém. Não sei se só eu estou cansada, mas mesmo com o músculo social mais forte e bem trabalhado, sinto que me relacionar hoje é bem mais desafiador.
O nível mais básico de construção de uma relação é a dedicação. Ninguém chega pronto para um relacionamento, as coisas acontecem pouco a pouco. Estamos em um mundo imediatista e é fácil residir na indiferença, mas é importante lembrar que lidar com a rejeição, com o medo, com a insatisfação e com os defeitos do outro faz parte do processo de construção da relação. A pressa nos impede de olhar o outro como pessoa e isso pode fazer com que nos sintamos descartáveis e tratemos o outro da mesma forma. É horrível se sentir assim.
Nós, seres humanos, somos criaturas relacionais por natureza. Nossas relações diárias – família, amigos, colegas de trabalho, conexões nas redes sociais – todos demandam uma parcela do nosso tempo.
Quando você está solteira, uma parte desse tempo é dedicada a conhecer novas pessoas. E esse é um campo que é ao mesmo tempo cansativo, surpreendente e assustador. Demanda tempo para começar uma conversa, encontrar alguém, conhecê-lo. Além do tempo, há também a necessidade de energia para se envolver, para responder, para estar disponível. Dos aplicativos, nem falo, pois não tive energia pra continuar neles.
Durante esse tempo de solteira, percebi que a clareza na comunicação é uma grande vantagem em qualquer relação. Aqui estão três lições preciosas que reforcei:
Comunicação é a chave. Todo modelo de relacionamento que funciona no tempo, para mim, tem uma comunicação muito sólida. Sou amiga daqueles que conseguem conversar. Na minha família, busco abrir até as conversas mais difíceis. Imagine quão mais vulneráveis, abertos e amorosos poderíamos ser se as palavras não fossem escondidas ou reprimidas?
Sobre o amor – ele é feito de ação. E a ação se constrói no movimento do tempo.
O tempo das relações é repleto de conversas, músicas e silêncios. E cada segundo vale a pena quando se é investido em relações que respeitam, valorizam e enriquecem nosso eu. O tempo não é apenas um recurso, mas também um presente precioso que oferecemos uns aos outros.