2 de dezembro de 2019
Você notou como o volume de informação a respeito de detox digitais, tempo de uso de tecnologia e vício em redes sociais aumentou nos últimos anos?
Como estudo bastante sobre esse tema, não pude deixar de observar. A quantidade de livros, revistas e vídeos sobre o assunto aumenta cada vez mais. Claro, quanto maior a dor sentida pelas pessoas, mais pesquisas e questionamentos acontecerão. Estamos vivendo hoje linhas de história que serão lidas por futuras gerações. Estamos escrevendo hoje, experiências e soluções sobre vivências recentes que mudam nossos sentidos e nossa forma de enxergar o mundo. A relação com o digital e o virtual é assustadora (ainda) para algumas gerações e completamente inerente a outras.
Como não fui criança de iPad, minha memória infantil ficou ligada ao offline, brincadeira na rua e conversas. O mundo digital começou a fazer parte da minha vida um pouco depois. Ser uma usuária assídua de Mirc, MSN e celular com certeza mudou minha forma de me relacionar com o mundo e comigo mesma. Aos 20, a internet foi uma via para eu entender melhor a depressão que naquele momento de vida eu passava. No mercado de trabalho, aparelhos celulares, emails e Whatsapp eram minhas drogas de escolha.
Há alguns anos escrevo sobre minhas experiências com a mudança de relação com tecnologia. Escrevi um livro sobre o assunto. Mas foi um insight vivido depois dos 30 que me levou a melhor prática que já fiz para alcançar mais paz em meio a um mundo acelerado (e conectado).
Em Junho de 2018 conheci Israel. O primeiro lugar que fiquei foi Jerusalém. Quem já teve a oportunidade de conhecer Jerusalém sabe como as ruas são movimentadas, barulhentas e confusas. Buzinas 100% do tempo, pessoas falando alto, mercados cheios de gente. Aquela confusão e caos de cidade histórica movimentada.
Mas não aos sábados.
As ruas de Jerusalém ficam silenciosas aos sábados. Tudo fechado. Nenhum carro. É Shabat.
Do pôr do sol de sexta feira ao pôr do sol de sábado, a cidade vive o descanso judaico. As famílias se recolhem, se reunem e sem interferências externas, descansam e reconectam-se. O significado literal da palavra Shabat é “ficar imóvel”ou “descansar”.
Os judeus ortodoxos seguem a risca esse período, sem nenhum trabalho ou até mesmo tarefas pequenas como rasgar papel higiênico do rolo, no banheiro.
Mas para além das realidades individuais, o Shabat mexe com a estrutura da cidade, como por exemplo, não há transporte público. Isso impossibilita muitas vezes as pessoas que trabalham durante a semana de realizar passeios ou fazer outras atividades. Enfim, eu achei isso simbólico e mexeu absurdamente comigo. Fiquei fascinada em ver como a cidade muda de uma hora pra outra, deliberadamente, intencionalmente.
É por isso que eu adoro viajar. Conhecer outras culturas permite que façamos novas conexões. Eu entendi nessa viagem que: se uma cidade toda para aos sábados, eu também posso!
Technology Shabbat ou Tech Shabbat são termos que se referem a uma folga no uso de tecnologia. Isso envolve as telas como smartphones, computadores ou TV.
Tiffany Shlain e o marido, professor de robótica da UC Berkeley, Ken Goldberg foram pioneiros na internet a falar desse assunto. Tiffany Shlain produziu uma série de conteúdos como textos e filmes que explicam melhor o conceito para o público. Veja abaixo o primeiro vídeo da série:
O interessante dessa experiência é praticar um ritual semanal que pode impactar completamente todo o andamento da semana. E como uma pessoa que adora rituais e desafios, estabeleci algumas regras para a prática.
Durante o sábado, todas as telas são desligadas. Isso envolve celulares, computadores e televisão. A ideia é usar o sábado para encontrar pessoas, ler, escrever, sair pra dançar, ver natureza, cozinhar…
Como tenho um negócio digital e estou constantemente online, seja em atendimentos, promovendo algum produto ou criando conteúdo, um dia offline significa, inevitavelmente, um dia longe do trabalho e isso me ajuda muito a descansar.
“Those who work with their minds should sabbath with their hands and those who work with their hands should sabbath with their minds” – Jewish Proverb
Eu gosto dessa frase porque esclarece como podemos descansar. Se o seu trabalho for mais mental, é interessante que você use esse período para estimular algo no corpo, praticar esportes, sair para caminhar na natureza, estimular outros sentidos. É o que eu gosto de fazer nos meus sábados, principalmente sair para dançar.
Faço algumas exceções para o uso de tecnologia, como por exemplo: pedir um Uber, usar o Google Maps ou ouvir música no Spotify. Acredito que cada pessoa deva buscar as suas próprias regras para a prática, pois temos estilos de vida diferentes. Meus princípios básicos são:
A prática do Shabat Digital ou ~sábados offline~ como costumo chamar por aqui, vai apresentando seus benefícios logo no início da experiência. É claro que a ansiedade, os medos, os gatilhos, todos eles aparecem e se apresentam como muita ênfase lembrando com clareza do quanto somos apegados ao nosso celular.
Pelo menos pra mim, o início foi um misto de FOMO com ALÍVIO, o que não me parece difícil de explicar. Em uma cultura que está acostumada a estar sempre disponível e conectada, todos ficam malucos tentando responder tudo imediatamente e estando 100% disponível. Acostumamos com a dor. Mas até hoje não conheci uma pessoa sequer que relate gostar desse lugar.
Com as práticas do Shabat Digital o imediatismo foi dando lugar a tranquilidade. Joy Of Missing Out.
É impossível ficar por dentro de tudo. O feed não tem fim, a timeline não tem fim, as playlists não tem fim. Assim funciona a Economia da Atenção e tudo que as mídias proporcionam com o objetivo de nos manter grudados aos nossos aparelhos e redes sociais. Foi feito pra ser assim, meu povo. E estamos viciados.
O Shabat digital é uma espécie de rehab deliberado, onde você vai refletir sobre a necessidade de estar sempre disponível, conectado, ativo, produtivo ou entretido. É uma oportunidade de repensar a sua relação com o tédio e simplemente deixar a mente navegar em modo difuso e fazer novas conexões.
Todos nós temos problemas pra resolver. Todos temos medos, feridas e assuntos a serem tratados. Anos atrás eu costumava usar a internet pra fugir dessa realidade. Hoje em dia escapo da internet para enxergar outros caminhos. Share on XO principal benefício dessa prática está no aprendizado que ultrapassa os sábados. O apego aos aparelhos e redes é algo que vai mudando. Com o tempo você começa a entender o que é realmente urgente, e que na verdade, nem existe tanta coisa urgente assim. Vai notando o ritmo da sua mente e o ritmo que as mídias impõem no seu dia a dia.
Por que vale a pena experimentar? Acredito que pra reconhecer esses limites e lugares que foram (aos poucos) sendo tomados do seu dia, substituídos por redes sociais, notificações, tweets e afins. O Shabat Digital é uma oportunidade de reencontro e entendimento com o tempo. É um momento de conexão com o essencial.
Venho defendendo e ensinando organização porque sei que ela, quando abraçada, permite que a gente continue seguindo a voz do coração, o caminho do nosso propósito, o encontro com as nossas emoções. A organização permite o encontro consigo mesmo e a aceitação da nossa bagunça e do nosso próprio caos. Quando temos tempo para processar e decidir com o coração, a gente está construindo um outro nível de vida, com mais profundidade, significado, paz e harmonia.
Há 05 anos venho trilhando um caminho de autoconhecimento através da organização pessoal e abrindo espaço para quem quer se aprofundar, conhecer a si mesmo e seguir seu propósito.
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