17 de maio de 2021
A espera e o tédio podem ser deliciosos e poucos são aqueles que sabem apreciar o tempo que tem. Já percebeu que sempre que não estamos fazendo nada ou que aparece uma brecha na agenda, já nos colocamos no modo de “buscar algo para preencher esse tempo”?
Será que perdemos a capacidade de apreciar o tempo que a gente tem?
Qual foi a última vez que você não fez nada?
Que ficou com a mente livre pra pensar em qualquer coisa?
O tempo passa diferente quando você se permite vivê-lo.
A gente faz a nossa relação com o tempo. Já tem algum tempo que tenho dado mais valor aos meus momentos de tédio. Quando me percebo entediada, ao invés de buscar algo pra preencher aquele tempo, deixo a minha mente livre. Permito-me ouvir e vivenciar o tédio. Aprendo muita coisa com essa permissão. É impressionante o quanto o cérebro abre espaço pra diferentes reflexões nesses momentos.
Tenho uma capacidade incrível de colocar coisas na minha lista de tarefas (risos nervosos). Foi com o tempo que aprendi a filtrar e também a deixar espaço para os acasos e imprevistos da vida. Deixar espaço também para os tempos de sentir e dos projetos inesperados. Espaço para nada e espaço para fazer as coisas que apenas no início me deixam entediadas, mas depois de envolvida não quero deixar de viver aquele modo de câmera lenta.
Aqui em casa o sol bate a tarde na varanda, tenho tentado parar um pouco mais apenas pra curtir esse contato do sol com a minha pele.
Faça o teste.
A valorização do tempo está também em só curtir o momento livre. E para curtir nosso tempo livre vamos inevitavelmente esbarrar com o tédio.
Sabe aquele momento em que você fica sem nada pra fazer? Ele tem que ser vivido e, quando a gente se permite isso, pode ser delicioso. Quando a gente acha companhia então para esses momentos é gostoso demais!
O tédio é uma sensação que a gente tem quando algo tá acontecendo lento demais ou ocupando mais espaço de tempo do que deveria. Você pode se sentir entediado numa fila, em uma aula ou até mesmo em uma festa. O negócio é que as pessoas se sentem entediadas em pouquíssimos minutos e são bombardeadas por distrações a cada segundo. O tédio causa aborrecimento e também um cansaço. Dá aquele sentimento de “aff, me tira daqui!”. Acostumados que somos na velocidade das redes, mal escutamos o que o tédio tem a dizer e oferecer.
O período de isolamento que estamos passando na pandemia levantou o tédio em muitos e só colocou um holofote maior no fato de como e quando escapamos do tédio.
Renato Russo cantava que “moramos na cidade, também o presidente e todos vão fingindo viver decentemente.”
“Andar a pé na chuva as vezes eu me amarro. Não tenho gasolina e também não tenho carro. Também não tenho nada de interessante pra fazer…” segue Renato nessa música.
Ver o dia passar na rede, ouvir passarinho, ficar na beira do rio, andar a pé na chuva. Tudo isso me parece coisa que o ser humano fez por milhares de anos. Sem whatsapp ou stories pra registrar.
O lugar do tédio é desconfortável mas o desconforto pode nos mostrar coisas interessantes sobre nossos processos. O tédio é diferente de uma apatia, por exemplo. São coisas importantes de reconhecer, pois mostram como a gente responde aos estímulos da vida.
Qual foi a última vez que você só escutou a música tocar?
Que você ficou sentado olhando para o nada?
Que você esteve só com seus pensamentos?
Sabe aquele tempo que parece inútil? Ele é mais útil do que a gente imagina.
O tédio, quando apreciado, pode te levar para reflexões incríveis.
Experimente durante uma semana o desafio de tirar mais momentos para apreciar o tédio e não fazer NADA além de curtir esses momentos.
Isso é uma habilidade nos tempos atuais, já que a gente não se permite “não fazer nada” e estamos constantemente distraídos buscando pela próxima notificação banhada em dopamina. Estamos tão acelerados que pensamos que é necessário preencher cada segundo disponível, mesmo que seja rolando o feed da timeline inúmeras vezes seguidas até aparecer algo novo.
Buscamos produtividade até no lazer, gente! Olha… tá puxada a coisa. A gente vive em um contexto que nos pede sempre mais… o excesso de tarefas nos faz achar que precisamos ultrapassar os tempos livres e preenchê-los com outras coisas, mesmo que a gente faça isso de forma inconsciente.
Ao excluir o tédio da nossa vida, podemos ficar doentes e ansiosos. É por isso que apreciar o tédio pode ser um ótimo remédio. Porque a sua leveza fica mais potente quando você se permite fechar os olhos, deixar a mente livre e, simplesmente, não fazer nada. Quando isso acontece você passa mais tempo com você mesmo. Pode ser assustador, eu sei. Mas o remédio vem desse olhar pra dentro mesmo que seja difícil.
Tente fazer mais disso na sua semana. Me escreva contando depois sobre a experiência. 😊
Comunidade TRILHAS