26 de agosto de 2024
Há muito tempo, diversos autores e pesquisadores discutem a Semana de 4 Dias e a redução da carga horária de trabalho.
Não é a primeira vez que vemos um movimento de mudança nesse sentido. Ford, há décadas, fez essa transição em suas fábricas, passando de seis para cinco dias de trabalho. E veja só onde estamos hoje.
O que percebemos agora sobre a Semana de 4 Dias é apenas a ponta do iceberg. Nos próximos anos, esses movimentos de redução da carga horária se intensificarão globalmente, simplesmente porque precisamos considerar a sustentabilidade em todos os seus pilares: econômico, social, ambiental e humano.
Ao investirmos em sistemas que aprimoram o conhecimento, as habilidades e a forma como as pessoas trabalham, estamos cuidando do capital humano na sociedade. Uma organização preocupada com a sustentabilidade humana focará nas pessoas envolvidas em todas as etapas de um produto ou serviço. Promover valores como flexibilidade, descanso e aproveitamento do tempo é uma forma de cuidar desse capital humano.
Quando decidi compreender a Semana de 4 Dias, assim como essas empresas, realizei um experimento. Desde 2019, não apenas falo sobre a Semana de 4 Dias, mas a vivo e compartilho opiniões sobre ela. Ensino caminhos para organizações que permitem uma redução do tempo de trabalho e confio que são formas de cuidar das pessoas, pois lhes devolvem seu bem mais precioso: o tempo de vida.
Essa mudança não acontece da noite para o dia, e é exatamente por isso que realizamos experimentos e incentivamos as empresas a continuarem monitorando suas métricas, a satisfação no trabalho e avaliando caminhos para a continuidade desse benefício.
No ano passado, iniciamos o primeiro experimento no Brasil. E os resultados foram positivos!
O relatório completo com os dados detalhados e metodologia usada no piloto está disponível em: www.4dayweekbrazil.com
Tive o privilégio de atuar como orientadora neste grupo, colaborando com as empresas em discussões sobre gestão do tempo, organização digital, comunicação assíncrona, métricas de produtividade e satisfação no trabalho.
É gratificante ver esses resultados, especialmente considerando que o Brasil enfrenta desafios com ansiedade e burnout, além de uma produtividade ainda baixa, apesar do abundante talento e potencial produtivo. Esses dados evidenciam que a semana de 4 dias é uma abordagem de cuidado, permitindo que as pessoas recuperem espaços essenciais para outras dimensões de suas vidas.
O relatório detalha todos os aspectos do piloto. A fase preparatória ocorreu no final do ano passado, com um trimestre dedicado ao planejamento, capacitando as empresas para o experimento de seis meses com a semana de 4 dias.
A flexibilidade foi uma característica-chave deste experimento. As empresas adaptaram o modelo ao seu fluxo de trabalho, optando por folgas em um mesmo dia para todos ou implementando sistemas de turnos e escalas.
Os dados de impacto no trabalho, bem-estar, saúde e conexão são notáveis. Eles confirmam que a semana de quatro dias proporciona uma reestruturação do tempo, das atividades, dos espaços, dos acordos e da comunicação. Esses elementos são fundamentais para que as pessoas desenvolvam um fluxo de trabalho mais organizado e fluido, possibilitando a manutenção do ritmo e a obtenção de resultados expressivos em menos tempo.
Antes do teste, os participantes trabalhavam em média 42,8 horas por semana. Após a implementação da semana de 4 dias, essa média caiu para 36,5 horas semanais, representando uma redução considerável na carga horária.
A aceitação do novo modelo foi extremamente positiva. Impressionantes 97,5% dos participantes expressaram o desejo de que a semana de 4 dias continuasse em suas empresas. Além disso, a aprovação foi alta tanto entre a liderança quanto entre os funcionários em geral: 88% dos líderes e 92% de todos os funcionários relataram sentimentos positivos em relação à semana de 4 dias.
Esses resultados demonstram não apenas uma redução efetiva nas horas trabalhadas, mas também uma forte aprovação do novo modelo de trabalho por parte de todos os níveis hierárquicos das empresas participantes.
No âmbito do trabalho, houve melhorias significativas, com 56,6% na execução de projetos, 52,6% no cumprimento de prazos, 80,7% na criatividade e inovação, e 60,3% no engajamento. O impacto no bem-estar dos participantes também foi notável, com 87,4% relatando mais energia para concluir tarefas, além de reduções no estresse (14,5%), fadiga (45,9%) e ansiedade (30,5%) relacionados ao trabalho.
Na área da saúde, os benefícios foram igualmente impressionantes. Houve uma redução de 72,8% na exaustão relacionada ao trabalho, 43,6% dos participantes passaram a se exercitar três ou mais vezes por semana, 42% experimentaram um aumento no sono de qualidade (8+ horas por noite), e houve uma redução de 49,6% nos casos de insônia.
Por fim, o impacto na conexão pessoal e profissional foi substancial. 71,3% dos participantes relataram mais energia para família e amigos, 44,4% experimentaram um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional, houve um aumento de 90,1% na colaboração, e 49% notaram uma melhoria nos relacionamentos gerenciais. Estes resultados demonstram claramente os múltiplos benefícios da implementação da semana de 4 dias de trabalho.
Esses dados são interessantes porque as empresas que se propõem a realizar esse piloto têm um desejo de inovação. Elas buscam melhorar a criatividade, aumentar o engajamento das equipes e aprimorar a execução dos projetos. Isso permite um maior envolvimento com diferentes iniciativas e um melhor cumprimento de prazos, garantindo que as entregas e o retorno dos clientes sejam positivos.
É fascinante observar essas melhorias significativas no trabalho, pois refletem exatamente o que as pessoas procuram ao entrar nesse piloto: maior produtividade, criatividade e inovação. Para as empresas, é uma oportunidade de “walk the talk“, de colocar em prática algo que está nos valores da organização – uma verdadeira experiência de inovação.
Além disso, o projeto traz mais bem-estar e impacta positivamente a saúde das pessoas. Com mais tempo disponível, elas conseguem se organizar melhor para cuidar das atividades em casa, das tarefas pessoais e do próprio corpo. A diminuição dos casos de insônia é particularmente importante, pois um sono de qualidade é fundamental para nossa saúde – é nossa rotina mais valiosa.
Com esses dados, observamos também um aumento na colaboração e uma melhoria nos relacionamentos. As empresas são feitas de pessoas, então é significativo ver que esse impacto geral foi tão expressivo e…que possibilitou às empresas repensar a forma como estavam realizando o trabalho.
Parabenizo e agradeço a oportunidade de estar com essas empresas durante esse último ano.
Fico feliz em ver os bons resultados e animada para continuar essa jornada. Já estamos com um segundo piloto sendo organizado para iniciar em outubro, no mesmo período de planejamento do anterior.
Para mais informações e inscrições, basta se informar via