30 de junho de 2020
Chegamos na metade do ano e no momento que escrevo este artigo, mais de 100 dias de distanciamento físico social já foram vividos e as experiências com certeza já mexeram muito com meus comportamentos (e com o de muitas pessoas mais).
Os dois primeiros meses nessa pandemia foram bem complicados para mim. Tive retornos de sintomas da depressão e o isolamento físico social me trouxe questões pessoais bem fortes a serem tratadas.
Os últimos meses levaram o nosso mundo a olhar estruturas individuais, de relacionamento (em casa) e também estruturas maiores de sociedade. Os movimentos #blacklivesmatter / #vidasnegrasimportam marcharam e ocuparam espaços virtuais apontando traços históricos que marcam nossa sociedade com desigualdade, preconceito e desvalorização do ser humano.
Durante o mês de Junho recebi a notícia via Whatsapp de mais de 4 pessoas pessoas na família com COVID-19. Uma delas tem o marido trabalhando fora, uma delas continua trabalhando fora. São as pessoas que não podem parar porque a roda precisa continuar girando. Com tantos está acontecendo o mesmo…
No mês de Maio gravei um episódio do podcast contando um pouco dessa experiência nos últimos dois meses e o que salvou minha saúde mental. Nesse mesmo episódio apontei também o espaço de privilégio de onde essa mensagem sai.
No Brasil, alguns resistem ao tédio enquanto, muitos lutam e continuam saindo de casa, pra colocar o que comer na mesa. Adiciona-se a isso uma camada política complexa, que soma medo, indignação e incerteza ao nosso povo.
Levanto o tema saúde mental e foco com o intuito de sairmos melhores e contribuir com o mundo através da nossa entrega, intenção, atenção e ação. Da maneira que pudermos. Com quem pudermos.
Em Junho de 2020 vários estabelecimentos voltaram ao fluxo na Califórnia, mais especificamente em Palo Alto, coração do Vale do Silício, onde eu moro. Alguns counties estão com regras diferentes, mas em suma: os restaurantes voltaram a funcionar com entregas na porta e alguns com mesa do lado de fora para servir, os supermercados começaram a aceitar mais pessoas dentro dos estabelecimentos, já é possível realizar atividades ao ar livre como picnics e atividades físicas em grupos.
Também já é permitido encontros com grupos de até 12 pessoas e visitas a uma casa de preferência.
Estamos recebendo orientações tanto da Universidade quanto das autoridades em nosso bairro para manter o distanciamento físico, uso de máscaras e realizar saídas apenas quando for necessário e essencial. Continuo seguindo essas orientações e mantendo os cuidados.
Algumas atitudes que já viraram hábitos para preservação dos cuidados individuais e coletivos:
O que tem na minha bolsa depois do COVID-19:
Somos seres flexíveis e adaptáveis, mas cada pisada fora da zona de conforto é um desafio. Não sou do tipo de pessoa que faz as coisas sem planejamento, como você já deve presumir. Porém, percebi nos últimos dias que para aumentar a minha margem de segurança e caminhar de acordo com a reabertura, precisava me colocar fora da minha zona de conforto e experimentar essa reabertura. Gosto de ter algumas guidelines para me orientar nesse processo e não sair arriscando a minha saúde e a saúde dos outros. Tenho muito respeito pelos profissionais de saúde que estão dando o seu melhor para cuidar dos casos, por isso, estou mantendo atitudes para curva baixa:
Isso é especialmente válido se a visita for em outra cidade. Na semana passada fomos realizar uma trilha (os parques estaduais já estão abertos à visitas na Califórnia) e levamos nossas comidas conosco em pacotinhos. Não precisamos passar em nenhum lugar e nem entramos em contato com outras pessoas para fazer o nosso passeio. Foi do carro pra trilha e da trilha pra casa. Nem usamos o banheiro do local. No meio da natureza a gente dá um jeitinho. Rs
Estou realizando compras online e quando preciso vou ao mesmo supermercado que é perto da minha casa para o que é essencial. O supermercado do nosso bairro tem feito um bom trabalho mantendo o estoque e garantindo a segurança dos funcionários e dos membros da comunidade que vão ao local.
Cuidar da alimentação com planejamentos semanais me ajuda muito a não precisar estar sempre no supermercado. A nossa frequência de compras era de uma vez por semana antes da pandemia e agora eu realizo compras de 3 em 3 semanas para evitar o movimento de supermercados e facilitar também a higienização e organização dos alimentos.
As compras no supermercado abastecem o essencial, mas estamos começando a voltar também a pedir coisas dos restaurantes e produtores locais. Cada dólar é essencial para manter a comunidade e aqui é tudo muito caro, os aluguéis, os recursos. A ideia de comer e comprar no local é mais importante do que nunca para manter a comunidade bem e abastecida. O dinheiro investido vai para pequenos negócios que estavam parados há tempos.
Vários parques e espaços públicos estão abertos com orientações e regras sobre o que fazer e o que não fazer. Cada área é diferente e o que estamos fazendo é olhar os sites de cada um para verificar quais são as orientações de visita e como a proteção está sendo recomendada.
A maioria deles está com os banheiros fechados, então as visitas acabam não se estendendo muito por conta dessa limitação. Os que se mantém abertos propõem uma divisão de espaços, como por exemplo no Dolores Parque em São Francisco, com o desenho de círculos para pequenos grupos que desejam estar no parque. Vale ainda lembrar que os cães precisam estar com coleira, para evitar que corram e mexam com outras pessoas.
O lugar onde eu moro é bem organizado e em todos os locais onde estamos podemos verificar a presença de seguranças e guardas que estão ali para orientar as pessoas ou conter alguma crise. É importante ouvi-los e seguir as orientações que nos passam.
Uma das coisas que estou escutando muito por aqui é: Fazer turismo não é perigoso. Irresponsabilidade é.
Gostaria de deixar registrado esse momento para que fosse possível ter uma noção dos hábitos que ficaram depois de 100 dias de distanciamento físico social e que acredito que já estão moldando personalidades e comportamentos (principalmente das crianças pequenas).
Aproveito para deixar aqui também uma dica de série na Netflix chamada Explicando – Coronavírus. O terceiro episódio fala de como encarar os desafios da pandemia e complementam o assunto levantado aqui.
Essas são atitudes que parecem ser contraditórias para muitos lugares nesse momento. Também estou aprendendo a enxergar de maneira diferente e encarar essas mudanças, com minhas resistências e demônios internos, mas com toda esperança e ação que possa ser dedicada agora.
Liberdade exige responsabilidade.
Sigamos.
Organizar é convidar o essencial pra entrar!