Quanto mais a gente não pode adiar uma coisa, mais tentador é adiá-la.

Esticar a noite até tarde na Netflix, após um dia longo de trabalho, só para ter algum lazer no dia e, com isso, trazer sono e ineficiência ao dia seguinte… Entrar no Instagram, ou abrir o navegador, para pesquisar rapidamente alguma coisa e acabar vivendo três horas seguidas nisso… Parece alívio inicialmente, mas a verdade é que isso cansa. E muito!

Essa pandemia instigou uma crise global de saúde mental, principalmente entre os mais jovens. Conforme uma pesquisa publicada na JAMA Pediatrics, um em cada 4 adolescentes em todo o mundo está “experimentando sintomas de depressão clinicamente elevados, enquanto 1 em cada 5 jovens está experimentando sintomas de ansiedade clinicamente elevados”. As razões pra isso? Ligue o noticiário por dez minutos.

É o isolamento social que ainda não acabou, são os problemas financeiros e de relacionamento (familiar ou não) que a pandemia desencadeou, é a interrupção abrupta da rotina escolar, o medo e a impotência diante do futuro… É bem fácil entender a razão da frustração dos jovens.

Temos vivido a pandemia em um mundo hiperconectado! Quantas distrações! Cada vez mais vejo como é importante aprender a lidar com os problemas atuais, com as lentes de autoconhecimento e autocuidado.

Estamos adoecendo. Estar no buraco, rolando o feed eternamente e sufocando em excessos, não me parece um bom “normal”. Em nome do alívio imediato, a gente tá evitando todo e qualquer tratamento de cura, até porque estamos sobrecarregados. Que trabalho dá pensar em mais uma coisa. Eu entendo!

O “tamo junto” nunca foi tão real.

Pode até não parecer claro agora, mas há caminhos. Inclusive para a nossa descrença e frustração generalizada. Como coletivo, ainda temos um longo trajeto pela frente, e precisamos de agentes de mudança (nós mesmos) saudáveis para trilhá-los.

Um bom exercício de autoconhecimento que nos ajuda a passar por mudanças é observar o que a procrastinação esconde e aplicar estratégias para contornar o deixar pra depois.

Muitos procrastinam coisas de trabalho.

Mas tem gente que adoece por procrastinar o cuidado com a vida.

Por que procrastinamos o cuidado com o essencial tantas vezes?

Nós sabemos que dormir é essencial, comer bem, descansar. Acontece que para muitos essas são as tarefas exigentes do dia. O instinto então leva ao adiamento já que quando estamos estressados ou ainda assustados com o que é preciso fazer, batendo até uma deprê, acabamos buscando alguma gratificação que seja instantânea, e assim, priorizamos o prazer: primeiro o mais gostoso, primeiro o mais fácil, e assim por diante, até chegar no menos gostoso e mais chato ou difícil de fazer. E assim vamos empurrando as necessidades até que não seja mais possível adiar.

Dormir, comer bem e descansar é gostoso demais. Em que ponto foi que ficou difícil?

No trabalho, tem até quem se divirta com essa corrida contra o tempo, apontando que, sob pressão, trabalham com muito mais afinco e adrenalina. Você conhece alguém assim, provavelmente.

Essa é a mesma pressão que muitas vezes distancia esse alguém do essencial da vida…

Da próxima vez que você sentir a tentação de “deixar pra mais tarde”, tente ver as coisas da maneira mais racional possível:

• Crie um checklist bem detalhado, levando em conta quais são as tarefas que você precisa concluir e os prazos que tem.
• Faça uma escala de 1 a 10, com 1 sendo a tarefa mais prioritária e 10 a menos prioritária.
• Coloque na ponta do lápis quanto tempo cada tarefa levará para ser concluída.
• Reserve espaço no seu calendário para executar as tarefas.
• Execute as atividades do checklist nos espaços reservados.

Isso para para qualquer atividade dentro e fora do trabalho. Checklists nos dão um senso de direcionamento que facilita a tomada de decisão, diminuindo a procrastinação.

Vai por mim: pequenas ações podem revolucionar o aproveitamento da sua rotina. A cada check dado, o que trazia ansiedade e angústia vai virando um tremendo estímulo e – quem diria – fonte de prazer. Tudo é questão de perspectiva.

Organização não é um caminho único, são vários, ó: diminuir o ritmo, dizer não, aromaterapia, acupuntura, musicoterapia, homeopatia, fitoterapia, meditação, conversas, ficar off-line, fazer terapia… E muitas outras possibilidades. E sabe o que é melhor? Você não precisa escolher uma só. Teste a(s) que funciona(m) para você e vá mergulhar seu interior e caçar sua felicidade.

O cuidado é o caminho da cura, da mudança, da transformação. Não vale a pena deixar pra depois. 😉