17 de agosto de 2017
Este post faz parte da série de posts colaborativos que estou trazendo aqui para o blog com a intenção de apresentar o ponto de vista de outros profissionais da área de organização digital. O texto de hoje foi escrito com a colaboração da Alice Santos, amiga e profissional pela qual tenho muita admiração e carinho. Alice é formada em Ciência da Computação, atua profissionalmente como gerente de projetos de tecnologia, é coach e especialista em organização. É soteropolitana de sotaque apaixonante e mora no Rio de Janeiro desde o final de 2009, onde conheceu seu marido e tem uma filha atualmente com 4 anos. A Organização Digital é um encontro da formação em TI com a descoberta da organização profissional.
Convidei a Alice para colaborar aqui no blog com o tema tecnologia e maternidade. Como quero ser Mãe sem Caos como ela, quis logo saber como ela lida com essa nova geração super tecnológica. Vamos ao papo?
Vivemos hoje com a experiência intergeracional em relação a tecnologia. Nossos pais possuem uma experiência diferente da nossa. Nós possuímos uma experiência diferente dos nossos filhos. A qual geração você pertence e como é sua relação com a tecnologia?
A cada geração o comportamento em relação a vida digital muda, e a qualidade das nossas relações hoje está muito ligada a maneira como as pessoas ao nosso redor se relacionam com computadores, smartphones e internet. A geração Z é a dita geração dos nativos digitais que ao invés de dividirem computadores de mesa, já possuem seus celulares e notebooks desde cedo. Já nasceram conectados, alguns dizem.
Os indivíduos dessa geração nasceram entre 1990 e 2009. A noção de grupo para essa geração é virtual e colaborativa. Como lidar então com a diferença entre as gerações, aceitando que os pequenos (e os mais crescidinhos) vivem em uma era onde a tecnologia é parte essencial do dia a dia? Muitos pais estão aprendendo a incorporar, aceitar e conviver com tecnologias para entender melhor o mundo dos filhos e se aproximar de suas realidades.
Nós duas nascemos na década de 80. Computadores na nossa época eram novidade. O pai da Alice foi um cara de visão! Ele trabalhava em uma empresa de telecomunicações com computadores de grande porte e logo que foi possível levou um daqueles grandalhões pessoais pra casa. Alice tem registros de fotos onde estava brincando ainda de fraldas com um deles.
O pai da Alice já sabia que a mudança era uma realidade e queria que ela fizesse parte dela. Enquanto criança nós fazíamos pesquisas em enciclopédias e tínhamos costume de ir a bibliotecas fazer nossos trabalhos de escola. Vimos notebooks chegarem no mercado, smartphones nascerem. Mas e a nova geração? Hoje as crianças têm Google e impressora como padrão. Foi tudo muito rápido!
Minha filha nasceu em uma era diferente. Nasceu em 2013 e em casa já tínhamos notebooks, tablets, smartphones, smart tv, Netflix, Youtube. Enquanto na minha época lidar com essas coisas todas foi um processo de aprendizado complexo, para a minha filha é parte da vida, tanto quanto a cama em que dorme. O primeiro presente de natal que ela pediu quando começou a entender foi um notebook de brinquedo da Barbie. O segundo foi um tablet rosa. Ela sabe escolher os vídeos que quer no Youtube e tem um perfil configurado no Netflix. Usa aplicativos com joguinhos no tablet. Está tudo aí, a mão, de fácil acesso. Ela não conhece outra realidade. E pra mim que sou de uma outra geração surge uma dúvida: como lidar com isso? Como educar no meio disso tudo? – Alice Santos
A discussão é polêmica e necessária. É preciso limitar? Colocar restrições de acesso? Existe regra? Faz sentido determinar tempo para as crianças usarem tecnologias? Talvez a educação tecnológica seja a resposta mais sensata. É preciso achar o equilíbrio. Crianças adoram internet e tecnologia, assim como adoram brincar, correr, se relacionar. Como apresentar a tecnologia para as crianças pode definir a forma que elas vão lidar com essa realidade. Uma pergunta chave que fica em mente, pelo menos para mim que ainda não sou mãe, é: como meus filhos se relacionarão com tecnologia?
Hoje as crianças e adolescentes entre idade escolar (de 8 a 18 anos) passam em média um terço do dia dormindo, um terço do dia na escola e outro terço consumindo mídias, alternando entre smartphones, tablets, TVS e laptops. Isso significa que eles passam boa parte do tempo se comunicando através de telas, talvez mais do que com outras pessoas diretamente, olho no olho. O tema vem sendo discutido entre educadores, psicólogos e cientistas e a discussão é pertinente porque a tecnologia impacta ativamente na maneira como adolescentes e crianças se comunicam.
Não é difícil perceber a diferença. A nossa geração (minha e da Alice) tem uma preferência por ligações, enquanto os adolescentes e crianças que convivem conosco claramente preferem mandar mensagens. O texto permite que se molde a mensagem para que ela seja mais precisa que o discurso falado! Haha é diferente de Hahahaha que é diferente de HAHAHAHAHAHA. Mas nem sempre tem alguém sorrindo do outro lado da tela. Será que as crianças estão perdendo a espontaneidade e empatia? Eita que esse papo rende!
É importante destacarmos que a percepção varia em cada casa e para cada pessoa. O que vamos compartilhar aqui são os aprendizados que Alice teve sobre tecnologia e organização digital e tudo que tem funcionado em sua busca por educar a filha, hoje com 4 anos. Até porque, como essa mudança tecnológica aconteceu tão rápido, estamos todos aprendendo juntos, analisando os erros e acertos enquanto vamos tentando incorporar a tecnologia a nossa realidade.
A verdade é que não dá mais pra evitar, a tecnologia é e vai continuar sendo parte do nosso dia a dia cada vez mais. E que bom! Então vamos aceitar e aproveitar. Olha só quanta coisa legal que a pequena tem oportunidade de ter na infância e que nem eu ou Alice tivemos:
Realmente, não tem nada errado com tudo isso! Muito pelo contrário, é a tecnologia cumprindo seu papel de facilitar a vida. Não tem nada errado em fazer amigos online, assistir coisas online, pesquisar e conhecer o mundo. É uma abertura que faz dessa nova geração aquela que já produz aplicativos antes dos 10 anos de idade!
Aí vem a polêmica: mas e as relações offline?
Alice compartilha que o tentador mesmo é confiar na tecnologia e delegar a ela a solução para alguns dos maiores problemas da maternidade: a birra e a falta de tempo (é aqui que entra o meu medo como aspirante a mamãe, confesso!). O perigo, nos alerta a Alice, é o exagero.
As crianças precisam da gente, de gente, de conexão, de olho no olho, de exemplo, de interação. - Alice Santos ♥️ Click To Tweet
Como pais temos que aprender a lidar com as birras e educar, por mais trabalhoso que seja e mais tempo que leve. A tecnologia pode ser uma válvula de escape, uma alternativa para um momento particularmente difícil e necessário, mas não pode ser a primeira resposta. A criança, afinal, não quer o tablet ou a TV. Ela quer o entretenimento que isso tudo proporciona, ela quer o que aprendeu, o que teve a disposição. Na contramão da tecnologia existe um movimento forte de reconexão. De deixar a tecnologia de lado e cultivar as relações offline, de um cuidado maior com a educação infantil no meio de tantos estímulos. Lindo? Perfeito? Não se for levado ao extremo.
Vejo mães e pais privando os filhos do contato com qualquer tecnologia e isso também não é saudável. A chave não é parar o progresso e sim adequá-lo à sua necessidade. Usá-lo como ferramenta e não deixar que a ferramenta molde o seu dia.
Quando sentamos com nossos filhos, permitimos que a interação forneça um monte de estímulos neurais que trabalham em suas emoções e em estados psicológicos. A conversa é então um elemento fundamental para o equilíbrio e progresso. Os pais podem se envolver mais com as tecnologias e ajudar as crianças a se envolverem mais em atividades offline? Qual a medida? Ou melhor, existe medida? Novamente, existe regra? Quantas horas por dia devo deixar meu filho usar tablets? A Alice já foi logo no ponto:
Eu não vou te responder isso. Eu não gosto de regras. Porque eu acho que somos pessoas e famílias diferentes, com necessidades e realidades diferentes. O que funciona pra mim pode não funcionar pra você. O mais importante é a escolha consciente. É que você domine a tecnologia e use a seu favor de acordo com a sua necessidade de maneira saudável. Deixar a criança o dia todo no computador não é saudável e privar ela desse convívio também não.
A dica dela é: experimente! Estipule horários e veja como a criança se comporta. Não estipule e dê atenção a ela e veja como ela se comporta. Use junto com ela e veja como ela se comporta. Você vai começar a perceber que a própria criança vai começar a te ajudar a entender quando e como a tecnologia pode ser utilizada de maneira benéfica.
Eu continuo experimentando diariamente. Tenho tentado tirar um tempinho de vez em quando para apresentar as vantagens da tecnologia. Fico com ela no tablet e no computador, comento os desenhos que ela vê, entro no universo dela e vou regulando. Se nos deparamos com um vídeo inapropriado eu converso e explico e escolhemos um mais legal e apropriado. Ensino ela a desenhar no Paint, a escrever no Onenote. Ela ainda não sabe usar, mas se diverte tentando e nos divertimos juntas. Uma outra coisa que faço é garantir que teremos no dia algum momento totalmente offline. Sem TV, sem tablet, nem nada tecnológico. Só eu e ela, ou eu ela e meu marido. Conversando sobre como foi a escola, fazendo picnic no chão da sala, lendo um livro de história, fazendo arte (desenhando, pintando, fazendo teatrinho).
Uma alternativa também que funciona bem é aliar as duas coisas. Mundo virtual e mundo real. Outro dia minha filha queria que eu desenhasse a Ladybug pra ela pintar. Eu não sabia como então fomos juntas pesquisar no Google no celular uma foto dela. Ela ficou segurando o celular enquanto eu tentava reproduzir (porcamente, é verdade) no papel. Nos divertimos muito e ela pintou feliz. Às vezes estamos lendo uma história e ela quer ver mais histórias com o mesmo personagem, então colocamos no Netflix ou no Youtube e procuramos juntas desenhos ou filmes para ela continuar no espírito da história. O segredo é acompanhar. É estar presente. É ensinar e aprender junto. Valorizar tanto o online quanto o offline, porque tem espaço pros dois e vai ter sempre.
A gente acha que a criança não sabe das coisas, é uma tela em branco. Mas não é. Elas têm personalidade, um olhar próprio, são seres independentes interpretando o mundo que também podem nos ensinar bastante a lidar com ele. O que a gente tem que eles não têm é experiência, a gente sabe o que é arriscado, a gente sabe o que pode acontecer. A gente pode dar limites e respostas com base no que já vivemos e aprendemos. Eles precisam disso. Se a gente já apresentar a tecnologia de maneira consciente, como ferramenta, de maneira estruturada, para nos ajudar a organizar nossa vida, a criança vai entender, afirma novamente com precisão a Dona Alice. E eu assino embaixo!
Nas minhas conversas com adolescentes e crianças percebo esperançosa sinais de que eles estão começando a linkar os problemas de estar sempre conectados também. Muitos já me relataram que preferem estar com seus amigos cara a cara e se incomodam quando eles ficam olhando o celular ao invés de dar atenção um ao outro. E que existem tempo sim para celular e tempo para as relações com quem amam. Quando pergunto com quem aprenderam isso, a resposta é certeira: aprendi com os meus pais.
Se queremos que nossos filhos tenham uma boa relação com tecnologia, que a jornada comece por nós mesmos!
Alice espalha a organização por aí também através de dicas em posts no Facebook (Avesso do Caos, 3D Ordem e Projeto Papo na Rede) e Instagram (Avesso do Caos e 3D Ordem).