Todos nós precisamos ficar offline para que, nesse tempo, possamos avaliar nossa vida, nos perceber, retomar contato com o mundo real, com a vida real e com as pessoas reais. O processo pode ser surpreendente. O detox digital vem como uma alternativa de desconectar. Mas proponho, ao invés de um detox, um descanso digital deliberado. Algumas atitudes práticas nesse texto.
Em todo canto hoje em dia é possível ver a mesma cena: pessoas grudadas em seus aparelhos celulares. Tem gente que já checou todas as notificações, emails, redes sociais e agenda do dia sem nem ao menos ter saído da cama.
Uma pesquisa realizada pela consultoria Deloitte revelou que os brasileiros desbloqueiam o celular, em média, 78 vezes ao dia. A média das mulheres é ainda maior: 89 vezes ao dia. Os homens ficam com 69. De acordo com a faixa etária a frequência também muda: pessoas entre 18 a 24 anos desbloqueiam o celular 101 vezes ao dia e pessoas de 45 a 55 anos, 50 vezes ao dia. Eis mais alguns dados interessantes da pesquisa:
Nos 5 primeiros minutos ao despertar, 57% dos brasileiros já verificam o celular;
81% das pessoas usam smartphone conectado ao Wi-Fi ao invés do 4G (14%);
Para 67% das pessoas a principal atividade realizada no aparelho é bater fotos, em segundo lugar fica acessar as redes sociais (55%) e visualizar vídeos curtos (40%).
56% nunca realizaram uma transação financeira pelo smartphone e somente 17% acessam a conta bancária todos os dias pelo aparelho;
70% dos entrevistados diz que o WhatsApp é o aplicativo mais usado.
Todo o acesso à informação que temos hoje em dia é muito bacana, mas o consumo de informação pode sim ser viciante. Quanto mais temos, mais queremos. Não conseguimos largar do celular, porque com ele o acesso a toda essa informação é muito simples. Foi feito pra ser viciante mesmo.
Mas tecnologia é pra ser um meio e não um fim. Uma forma de beneficiar você com economia de tempo e recursos, para que se possa dar conta de outras prioridades.
Há três sinais que indicam que você está perdendo o controle e passando mais tempo no celular do que deveria:
Você não consegue ficar sem o celular. Você checa o aparelho a todo instante e ele fica com você 24/7. É a primeira coisa que você pega quando acorda e a última coisa que vê antes de ir dormir. Você tem a síndrome da bateria acabando e já fica desesperado de chegar em um local que não tem sinal de wifi. É aquele que no jantar da família não consegue tirar o celular da mão e nos eventos fica olhando o show através da tela do celular.
Suas relações estão sendo afetadas. A dependência acontece quando os comportamentos começam a gerar prejuízos e problemas, como afetar o seu emprego, relacionamento, convívio social e familiar ou até mesmo sua vida acadêmica. Ao negligenciar tarefas e momentos importantes a pessoa acaba comprometendo sua qualidade de vida.
Sua vida online não condiz com a offline. Já cansei de ver histórias online que nada dizem respeito a realidade. Na foto do Facebook a pessoa está sorrindo e cercada de amigos. Na festa ela é aquela pessoa que está no celular enquanto todos conversam. A vida acontece do lado de fora e a partir do momento que você se tranca online seu universo vai ficando cada vez mais restrito. É tanta informação pra dar conta que você mal conseguirá separar o que é importante do que não é.
Por que todo mundo está tão conectado? Alguns pontos a considerar:
O e-mail é uma caixinha de surpresas. Você nunca sabe se vai vir uma notícia boa ou ruim. Quando vem algo ruim você acha bom estar conectado porque viu aquilo a tempo e conseguiu resolver o “mais rápido possível” e quando vem algo bom uma sensação de satisfação invade o seu cérebro que fica querendo mais e por isso, ele não para de checar o e-mail.
As pessoas têm medo de ficar por fora. As coisas estão acontecendo mais rápido e em volume maior. Mas nem que você queira vai conseguir acompanhar todos os memes de Internet ou as todas as publicações relacionadas a sua área de trabalho em tempo real. Muita informação pode ser tão prejudicial quanto nenhuma informação. Para se manter sempre atualizado não é preciso ser bombardeado de informações, é preciso selecionar e priorizar.
As pessoas estão sofrendo com a síndrome da validação. Postar uma foto e abrir a rede social de 5 em 5 minutos pra saber quem deu o último like. Isso não é saudável, mas muita gente acaba vivendo este hábito mesmo sem perceber. Parece que para validar um momento legal em nossa vida não basta vivê-lo apenas, é preciso registrá-lo e divulgá-lo. A síndrome da validação é perigosa porque te afasta de viver preciosas experiências do lado de fora da tela.
Não se sabe ao certo quais são os efeitos destes aspectos a longo prazo, mas algumas coisas são perceptíveis nos hiperconectados:
Interferência em atividades cotidianas;
Dificuldade para desenvolver uma conversa;
Dificuldade em ler um livro;
Dificuldade em se concentrar;
Vivem sob o efeito da multitarefa;
Uma paródia de Friends me faz refletir sobre como as nossas relações tem sido afetadas pelo uso do smartphone. A famosa abertura da série mostra os amigos interagindo e vivendo experiências cotidianas. Mas o resultado da nova geração de Friends não poderia ser mais real do que essa.
A disseminação tecnológica vem acontecendo em ritmo exponencial mas devemos ficar atentos aos efeitos que essa disseminação nos traz, modificando vários aspectos da nossa vida. Desde quando precisamos atender todas as demandas de forma imediata? Desde quando o celular passou a ser um membro da família?
Todos nós precisamos ficar offline para que, nesse tempo, possamos avaliar nossa vida, nos perceber, retomar contato com o mundo real, com a vida real e com as pessoas reais. O processo pode ser surpreendente.
O detox digital vem como uma alternativa de desconectar. Mas proponho ao invés de um detox um descanso digital deliberado.
Eis algumas atitudes práticas para esse descanso digital deliberado:
Delete todos os aplicativos de redes sociais do celular. Se quiser checar o feed, ou responder alguém, use o computador.
Silencie stories no Instagram.
Não acesse e-mail pelo celular. Prefira pelo computador.
Não deixe o celular ao lado da cama. Adote um despertador analógico.
Desabilite todas as notificações do Whatsapp. Inclusive o número de mensagens em vermelho que aparecem no app. Se for importante, ligue.
Estas pequenas atitudes já trazem uma economia de tempo que é possível investir em outras áreas da vida. Ficar indisponível para os outros é ficar disponível para se dedicar as suas tarefas e projetos mais importantes. Ou seja: desligar-se é fundamental para dar conta das suas atividades e valorizar o seu tempo. Após algum tempo de descanso deliberado, os benefícios já ficarão claros:
A ansiedade vai diminuir. Não ser bombardeada de informações ao acordar ou ao ir dormir é um alívio e faz com que você descanse.
Acapacidade de concentração vai aumentar. Menos interrupções farão bem para o seu foco.
Você vai conseguir entender o que de fato importa pra você. Todo mundo precisa de tempo pra refletir, pra colocar pensamentos e coisas em ordem e estruturar novas ideias, caminhos e formas de fazer as coisas acontecerem. Ao ficar conectado 24/07 talvez você passe mais tempo cuidando do que é importante para os outros e se deixe em segundo plano. Não dá pra ficar indisponível pra você mesmo.
Você conseguirá ter mais tempo para fazer o que gosta. O benefício que todos buscam na vida. Ter mais tempo para fazer trilhas, ver filmes, ficar brincando com os filhos, levar o cachorro para passear, organizar a casa, sair com os amigos, ver o mar, escrever, cozinhar a própria comida, cuidar de si mesmo, cuidar dos outros, fazer um trabalho voluntário ou simplesmente fazer nada. A verdade é que muitas das coisas que mais gostamos de fazer não dependem da nossa conexão a internet.
Seu tempo é muito precioso. Conecte-se ao que importa.
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