8 de outubro de 2021
Em 2017 comecei a ter insônia constantemente a ponto de virar noites e depois precisar ficar na base do Red Bull. Minha cabeça não parava mas o corpo se sentia constantemente pesado. Eu pulava refeições com frequência.
Eu não tenho problemas pra dormir e mesmo que eu demore pra comer, como bem! Então quando isso virou uma constante eu notei que algo estava muito errado.
Além disso, naquele ano eu estava passando por uns momentos difíceis no negócio. Fui mexer com lançamentos e fiquei muito estressada na época, trabalhando madrugadas. Levei uma rasteira e perdi dinheiro. Além disso, eu percebi um sentimento de negatividade em relação ao que eu estava fazendo, o que pra mim foi muito estranho porque eu gosto do meu trabalho, sei que ele faz diferença.
Eu chorava todo dia por conta do trabalho, de insatisfação com alguma coisa. Quando fiz transição de carreira em 2013 senti algo parecido. Ao olhar pra frente eu percebi que se continuasse na carreira de produtora eu seguiria fazendo coisas para os outros, e sempre sobrecarregada. Quando pensei em 2017 sobre como seria meu futuro se continuasse naquela pegada estilo marketing digital em fórmulas ou trabalhe enquanto eles dormem, eu iria adoecer.
Já passei por crises de depressão na minha vida antes, não queria seguir pelo mesmo caminho.
Desde 2018 venho construindo um caminho de trabalho mais saudável, conectado com o essencial da vida.
Burnout é um desgaste que vai afetar o seu físico, emocional e vai te levar a um estado de esgotamento.
Em 1981, a professora de psicologia da Universidade de Berkeley, na Califórnia, Christina Maslach, desenvolveu uma métrica para o Burnout em um artigo científico chamado “The measurement of experienced burnout”.
O MBI (Maslach Burnout Inventory) avalia Burnout com base em três critérios:
Um perfil de burnout requer uma pontuação negativa em todos esses três critérios acima. É interessante entender esses critérios porque, muitas vezes, o burnout é associado ao cansaço e a falta de energia apenas.
Você sente que seu trabalho não é mais tão interessante?
Que ele apenas paga as contas?
Ou ainda que nem liga sobre o que tá fazendo?
Burnout é algo complexo de medir. No entanto, se você está trabalhando longas horas, se sentindo ineficaz e totalmente desengajado da sua vida, preste atenção no alerta.
As perguntas abaixo foram enviadas por seguidores no Instagram. São questionamentos importantes que nos ajuda a entender caminhos de mudança no trabalho.
Além dos pontos já citados, observar o corpo é fundamental. Os sinais podem ser:
Esse é o tipo de diagnóstico que vai ser dado por um profissional. Se você notou que tem sentido alguns desses pontos, procure um psicólogo que vai te ajudar a pensar nos próximos passos.
Procrastinar pode cansar também.
Você pode ficar cansado de rolar feed, consumir informação, ver TV. Todas formas de procrastinar, principalmente no modo FOMO (fear of missing out – medo de ficar por fora).
A gente precisa desenvolver o que a Jenny Odell chama de NOMO: necessity of missing out (necessidade de ficar por fora) porque a cabeça precisa desse descanso. Tanta ideia boa nasce desses espaços que estão sendo ocupados muitas vezes por uma busca desenfreada por mais informação ou ainda a correria do trabalho.
Olhe para sua agenda.
Você tem espaço para dormir bem? Se alimentar? Movimentar o seu corpo? Descansar? Fazer coisas que gosta? Se a resposta for não, volte 2 casas e reorganize valorizando o essencial.
O trabalho faz parte da sua vida, não é sua vida!
Reorganizar o seu tempo e o seu trabalho é necessário para não cair em esgotamento. Organizar sua agenda valorizando espaços de movimento, sono, alimentação, prazer, autocuidado.
Eu sei que é difícil fazer isso. Estou há 4 anos nesse processo.
Tive que reaprender o que era lazer pra mim, como descansar e ainda lido com cobranças internas que me levam a lugares de questionamento sobre o que estou fazendo.
Além disso, muita coisa no meu negócio mudou e sim, isso significou menos entrada de grana algumas vezes, o que me levou a repensar os modelos que estão sendo reforçados hoje, como a comunidade em assinatura, cursos sempre rodando e consultorias/mentorias como projetos. Assim posso focar na minha maior contribuição que é produzir conteúdo e estar com pessoas. Que é o que eu amo fazer.
Ao invés do termo contrabalancear, que tal pensar em cuidado com as áreas da vida?
Tem momentos de vida que estamos focando mais em uma área (tipo quando você está em transição de carreira que tem seu CLT + tempo para formatar seu novo projeto). O negócio é quando isso pega o espaço de alguma área que é essencial.
Uma forma de cuidar das áreas da vida é pensar em rituais de cuidado para cada coisa:
Ao pensar em equilíbrio vejo uma roda da vida com níveis de realização reais, de acordo com os ciclos e prioridades que mudam. Às vezes estamos mais focados no trabalho, nos estudos ou no fluir das relações. Organiza a agenda de acordo, que dá.
Tem algumas profissões que são mais acometidas pelo burnout, como: profissionais de saúde em geral, jornalistas, professores, psicólogos, bancários, assistentes sociais, executivos, produtores, arquitetos, etc. O sistema de trabalho dessas pessoas muitas vezes é pautado pelas urgências, pelo imediato, deixando a cultura mais propícia ao esgotamento.
Mas independente da profissão, é importante falar.
Entendo como seja difícil, porque bate vergonha e você fica vulnerável, por isso procurar terapia antes pra te orientar sobre como trazer o assunto para o RH ou para chefia é uma boa.
Tem muitos gerentes e chefias que também estão no modo exaustão e o caminho seria negociar. Ao conversar apresente caminhos, limites. Precisa de mais tempo? Não quer falar sobre trabalho quando não é necessário? Precisa de horários específicos para poder cuidar da saúde? Apresente possibilidades.
É comum no burnout sentir a sobrecarga e o stress ao mesmo tempo, mesmo fora do período de trabalho. Bate culpa e cansaço dentro e fora do trabalho.
Gosto da perspectiva da Jenny Odell, no livro Resista não faça nada: A Batalha pela Economia da Atenção, onde ela diz que não há nada mais difícil atualmente do que não fazer nada, porque nossa atenção virou moeda.
Temos dificuldade de descansar, estamos em um sistema capitalista, com algoritmos virtuais e indústria da atenção. Descansar tem a ver com direcionar melhor nossa atenção e isso é treino.
Também me sentia assim. Mas tem como mudar.
O assunto tem sido abordado como uma condição de mudança individual o que só piora ainda mais o esgotamento, o burnout e o cansaço.
A gente vive nesse sistema e não temos controle de tudo. É por isso que comento tanto sobre Essencialismo, porque a filosofia nos ensina a escolher conscientemente, dizer não e eliminar excessos. Responsabilidade individual é importante, mas o problema é bem estrutural mesmo. Temos que observar isso pra não entrar em um lugar de culpa individual por ter adoecido no trabalho.
Não dá pra negar que o contexto tem conexão com o esgotamento. No entanto, onde a gente tem controle, podemos melhorar nossa qualidade de vida e passar pelo sistema de outro jeito.
Organizando, testando, conversando com clientes, modelando processos, errando, testando, reorganizando.
Estes são alguns pontos de reflexão para ajudar você a avaliar o esgotamento no trabalho e como evitar cair nessa. Fez sentido por aí? Deixa um comentário. 😉