24 de junho de 2016
Neste momento que escrevo estou em um vôo de São Francisco para Houston, conexão no meio do caminho para o Brasil. Estava imaginando como ficou a nossa casa. Passeando pelos cômodos mentalmente para me lembrar se não havia esquecido nada (costumo fazer isso quando saio para uma viagem longa como será essa – 3 meses no Brasil), lembrei de como eu achava que ia ser sofrido organizar a casa para essa estadia longe. Não foi.
Nós colocamos a nossa casa para aluguel de temporada. Ela receberá uma estudante francesa e um casal japonês para a temporada de estudos de verão em Stanford. Eles encontrarão um ambiente limpinho e aconchegante para passarem os dias. Antes de colocarmos a casa para alugar fiquei pensando em como eu deixaria a casa organizada, se removeria os itens de decoração, o que deixaria na cozinha, como iria guardar os nossos pertences que não seriam levados na viagem. A verdade é que a organização foi mais fácil do que pensei, me levando a refletir sobre o estilo de vida minimalista que estou seguindo e arrastando o meu marido para adotar junto comigo.
Organizar a casa para este período foi simples porque não temos muito coisa para organizar e tudo o que temos é tão funcional, que vários itens não precisaram ser guardadas porque continuarão servindo aos nossos inquilinos enquanto eles se hospedam por lá.
Adotar um estilo de vida minimalista vai muito além de ter menos coisas, é mais sobre saber o porquê de cada item que você tem. Click To Tweet
Com este pensamento em mente, quero compartilhar com vocês as 10 lições que aprendi adotando um estilo de vida minimalista.
1. Experiências são mais importantes do que coisas
Faz 10 meses que não vejo minha família e nem meus amigos brasileiros. Antes de viajar até pensei que deveria levar uma lembrancinha para eles do local que eu estou morando. Mas a verdade é que quando eu chegar ninguém vai querer saber de presente nenhum. O mais importante serão os abraços, o tanto que vão dizer que estou amarela pela falta de sol, as perguntas sobre como está sendo morar no exterior, como foi o vôo, entre outras coisas. Eu sou do tipo que adora dar presente, isso é verdade. Mas o minimalismo me ensinou que experiências são mais importantes do que coisas e que eu não preciso dar presentes para que as pessoas gostem de mim e vice versa. Estar ao lado das pessoas já é um precioso presente.
2. Ter dinheiro guardado é mais inteligente do que ter coisas
Eu já fui uma pessoa consumista. Já tive dívidas enormes para uma pessoa de apenas 20 anos. As coisas que eu comprei me traziam uma alegria passageira e a conta no vermelho uma dor de cabeça constante. Depois que comecei a ficar mais regrada com meus consumos para guardar uma parte do que ganho, comecei a garantir a manutenção da minha vida mesmo enquanto não há renda vindo. Ter uma poupança sem dúvida é mais inteligente do que ter coisas.
3. Se não estou usando e nem tenho o intuito de usar tão cedo, tudo bem descartar
Muitas vezes guardamos coisas em nossos espaços apenas porque um dia podemos vir a usar. Bobagem. O minimalismo me ensinou que quando eu precisar de algo, eu posso muito bem fazer o esforço de comprá-lo porque será essencial, ao invés de ficar ocupando minhas gavetas com coisas para usar quando precisar. Eu tinha um cortador de pizza lá em casa que nunca usei. Eu nem gosto de pizza! Descartei sem dó.
4. Fazer compras não é terapêutico, isso é enganação!
Antes de comprar algo novo, é importante avaliar o real impacto dessa aquisição para a vida. Quem tem uma veia consumista vai entender muito bem o que eu estou querendo dizer aqui. Muitas vezes sentimos vontade de comprar algo novo para cobrir o espaço de algo que achamos que está nos fazendo falta emocionalmente. Quando sinto a vontade de comprar algo, vou encontrar meus amigos, bater um papo no Whatsapp com alguém distante, olhar o que realmente quero conseguir comprando tal coisa. É importante avaliar a real motivação e analisar se é por aí mesmo que quero alinhar a vida. As estratégias de publicidade são massantes e funcionam de maneira espetacular. É fundamental ser crítico em relação ao consumo. Muitas vezes um desejo satisfeito com compra desaparece como vapor, aparecendo imediatamente outro desejo. Não dá pra ser escravo desse sistema.
5. Se para ser um sucesso perante os seus grupos eu tiver que gastar um dinheiro que não tenho, provavelmente estou no grupo errado
Essa valiosa lição eu aprendi com a minha mãe e captei de vez quando comecei a adotar um estilo minimalista. Nós não devemos pautar nossas relações em coisas. Para ser um sucesso entre as pessoas basta apenas ser você mesmo, sem gastos desnecessário que muitas vezes nada dizem sobre sua verdadeira personalidade.
6. Não funciona pra mim, mas pode funcionar para outra pessoa
Descartar é complicado. Deixar para trás roupas e objetos pode ser sim muito sofrido. Com o minimalismo no entanto, entendi que se não funciona pra mim e mesmo se não me traz alegria, não vale a pena ocupar os meus espaços, mas uma outra pessoa pode vir a se beneficiar e muito de um casaco que não combinava mais com meu estilo, de um sapato lindo porém apertado no meu pé. Quando eu me mudei para os Estados Unidos fiquei com uma dó de deixar pra trás um conjunto de louças de porcelana que ganhei no meu chá de panela. Quando vi que minha irmã queria aquilo muito mais do que eu não tive dúvidas: vai funcionar melhor pra ela do que pra mim.
7. Ao se livrar da bagunça, criamos mais espaço e sentido para vida
O problema de acumular coisas é que isso pode te prender. Ao guardar muitas coisas você acaba desenvolvendo um medo gigante de abrir mão dessas coisas e essa preocupação faz com que você gaste um tempo enorme tentando protegê-las. Você trabalha feito louco para adquirir mais coisas e preservar o que comprou. É uma loucura. Quando você tem menos na sua vida ganha um senso de liberdade tão grande e tão gostoso que até o seu tempo é impactado por isso, fazendo com que você trabalhe menos.
8. Não é sobre ter menos coisas, é sobre ter mais tempo
Um estilo de vida minimalista te ajuda a cuidar melhor do seu tempo no sentido que você passa a ficar mais atento as pequenas experiências do seu dia que agregam valor e te deixam feliz, como o tempo com o marido no café da manhã, a pausa do meio da tarde, terminar o trabalho antes do meio dia, etc. Não dá para gastar o seu tempo com coisas pelas quais você não tem amor nenhum. Ou seja, não vou me matar de trabalhar pra comprar um carro se o que eu gosto mesmo é andar de bicicleta.
9. No armário só fica o que combina comigo
Por anos eu guardei um vestido vermelho tomara que caia porque achava que ele ficava super sexy e era necessário ter um espaço pra ele. Mas aquele vestido era tudo de errado que tinha no meu guarda roupa. Quando eu descobri que na minha paleta de cores nem tinha vermelho, ele foi doado. Não quero nada no meu armário que não transpareça o que realmente sou e que não me deixe confortável. Na real, nem Jessica Rabbit sou, o que estava pensando eu ao guardar este vestido? Sabe Deus.
10. Menos online, mais offline
Com o avanço da tecnologia e da computação pessoal o minimalismo entrou em mais uma frente. É possível ter menos papéis e arquivar mais digitalmente, é possível organizar com calendários online, listas online, cadernos online. É possível se comunicar com o mundo todo através da internet. É possível ter álbuns e mais álbuns de fotografias digitais, assim como escutar todos os álbuns dos Beatles com apenas um clique. Mas da mesma forma que coisas físicas consomem nosso tempo e espaço, a tralha digital pode estar ocupando os nossos dias, a nossa mente e a nossa energia. É impressionante o tanto de tempo que passamos online e muitas vezes esse tempo pode estar sendo jogado no lixo consumindo informação inútil, procurando itens na pilha que só cresce, perdendo o olho a olho na ânsia de acompanhar a vida dos outros online. O minimalismo me ensinou que viver com menos é ter mais tempo para coisas importantes. Boa parte das coisas mais importantes acontecem offline.
Adotar um estilo de vida minimalista é um processo. Eu considero que estou apenas no início. A cada viagem que faço diminuo um pouco mais. É um aprendizado toda vez que preciso decidir se abro mão de algo, se adquiro algo novo, se tal coisa impacta positivamente a minha vida e a vida dos que me cercam.
O que eu posso garantir é que nessas idas e vindas, quanto menos coisas carrego, mais abro espaço para histórias, carinhos e oportunidades. Vai ver é a vida me recompensando por olhar para o mais importante.
Direcione o seu tempo para o essencial na Jornada de Organização