8 de julho de 2022
Pense nas melhores conversas que você já teve. O que elas tiveram de diferente? Como te fizeram sentir? O que passou pela sua cabeça enquanto estava tendo tal conversa? De alguma forma ela mudou você? Por que?
Essa conversa foi online?
Me arrisco a dizer que 90% das melhores conversas que eu já tive não aconteceram através de mensagens de texto, nem pelo telefone. Todas elas foram ali olho no olho. Aprendi tanto nas mais doloridas quanto nas mais confortáveis. Algumas delas aconteceram com meus amigos, outras com parceiros, outras com minha terapeuta. Várias foram comigo mesma porque no silêncio também há muita comunicação.
Hoje em dia muitas pessoas preferem mandar uma mensagem do que conversar. Ligação no dia do seu aniversário? Só se te amarem muito. Olho no olho e atenção exclusiva virou privilégio. Estamos deliberadamente abrindo mão do trabalho precioso que a conversa faz pela nossa saúde e nossas relações.
É conversando que aprendemos empatia, que criamos intimidade. Por que estamos abrindo mão disso por pequenos lastros de felicidade online? Foi isso que eu encontrei muitas vezes na internet: lastros de felicidade. A boa notícia do email, a vaga mensagem de texto com um amigo que mora longe, a lembrança de uma viagem realizada há alguns anos. Veja, não me entenda mal. Eu sou fã número um do que a internet pode nos proporcionar. Mas com uma variedade de opções, prefiro me ater apenas ao que é essencial.
Li um estudo esses dias onde 89% dos americanos afirmaram que durante sua última interação social eles pararam para checar o smartphone, enquanto 82% afirmou que essa atitude deteriorou a qualidade da conversa que estavam envolvidos. O que percebemos aqui é que basicamente as pessoas continuam fazendo algo mesmo sabendo que aquilo pode ferir suas relações.
Mesmo um telefone no modo silencioso é capaz de mudar a forma que as pessoas conversam. Apenas a presença de um celular na mesa é o suficiente para causar ansiedade e manter a conversa na superfície, sem aprofundamento. Afinal, a qualquer momento algo vai pipocar no seu celular e você vai precisar parar o que está conversando para dar atenção aquilo.
Mesas cheias de pessoas olhando seus smartphones. Namorados tentando resolver problemas via email. Colegas de trabalho que não querem se reunir para ter ideias. Famílias que só conversam via Whatsapp. Ao que parece, é muito mais confortável usar a tecnologia para alimentar nossas relações. Não é necessário sair do lugar, ninguém tem calafrios, fica gaguejando ou suando frio. A comunicação virtual é a promessa da perfeição, porque leva as pessoas a crer que tudo pode acontecer de forma calculada e certinha, incluindo as interações e discussões. Mas a vida real não é assim. Na vida real nós perdemos muitas vezes o controle do que vamos dizer. Isso é aterrorizante! E libertador.
As melhores conversas são aquelas que estamos de fato presente. E eu sei que isso pode ser complicado. Muitas vezes eu também busco refúgio no conforto de uma mensagem ou post em rede social. Faz parte da millennium que eu sou.
Mas não posso deixar que a tecnologia me silencie. Porque é através da conversa que cada geração passa a geração seguinte as suas experiências e o que acha certo ou errado e assim formamos histórias, pensamentos e comportamentos. Conversas importam. E eu gosto mesmo é de falar!
Aliás, você sabia que são necessários apenas 7 minutos para que você sinta que determinada conversa será importante pra você? Muitas pessoas ficam entediadas antes mesmo de 7 minutos e já sacam logo o celular para navegar na rede que for, mas eu te digo: insista um pouquinho mais. Conversam importam.
Online a gente consegue controlar o que vamos disser, digitar, publicar. Podemos photoshopar nossa cara cheia de espinha e colocar um filtro mágico que esconde nossas olheiras. Mas nenhum like vai substituir uma boa conversa.
Pular a conversa é também pular um mergulho importante no seu autoconhecimento. Quando pulamos nossas interações olho no olho somos menos empáticos, menos conectados, menos criativos e nos sentimos menos completos.
Estabeleça conversas com você mesmo, com as pessoas queridas e com o mundo, de maneira offline. De forma alguma você precisa abandonar suas conversas online. Elas podem e vão continuar fazendo parte da sua vida. É necessário no entanto que você saiba como e quando silenciar a tecnologia para que ela não silencie você mesmo.
Nossos smartphones vieram para ficar e possuem seu espaço de destaque em nossas vidas. A questão então é usarmos as nossas tecnologias de uma maneira mais atenta e com uma atitude mais ativa, tomando a dianteira e estabelecendo formas saudáveis de uso e aproveitamento de recursos.
Quando estamos sozinhos e entediados, que a gente não pegue o celular mas se permita ouvir o que o tédio nos diz. Quando estamos acompanhados, que puxemos mais conversas. Com o cara do Uber, com as pessoas na parada de ônibus, com o porteiro, com nossos amigos, com nossos colegas de faculdade e trabalho. Só a presença de um smartphone é o suficiente para tirar a atenção de uma pessoa durante a conversa, deixe ele de lado. Vai ficar tudo bem.
Pagamos analistas, consultores e psicólogos porque ouvir os outros e falar das nossas questões com os outros é um puta dum remédio. É difícil estabelecer relações olho no olho e puxar conversa. Ô, gente. Como é. Mas ainda temos chance. Temos uns aos outros.
Na Comunidade TRILHAS você encontra aulões sobre saúde mental, tecnologia, trocas e muito suporte para sua Jornada de Organização.