6 de novembro de 2020
Existe uma íntima relação entre as mudanças de vida e a organização pessoal. Íntima porque todo cenário de mudança de vida exige também uma mudança de organização.
A mudança por si só pressupõe uma troca de lugar e de estado. Pode ser uma mudança de país, de emprego, de relação. A mudança que vem com a chegada de alguém ou a mudança que vem com a despedida de alguém. As pessoas buscam por mais organização quando passam pelos desafios de uma mudança e a única coisa que nunca muda é o fato de que tudo está sempre mudando.
Essa troca de lugares não vem de maneira simples, a mudança tem um processo complexo. E para lidarmos com a complexidade das mudanças de vida, gerenciando-as, precisamos acessar camadas de análise e planejamento que só a organização pessoal nos possibilita.
No ano de 2020 estou passando por duas primaveras. A primeira foi na Califórnia em Abril e a segunda no Brasil em Outubro. Uma mudança e ruptura inesperada bateu em minha porta e eu precisei abrir. Em pouco menos de um mês, arrumei malas e me despedi de um casamento, da vida na Califórnia em casal. Disse até logo para os amigos que fiz, para a cidade que me acolheu. Disse adeus, em um mix de gratidão e dor, para o amor que construímos e vivemos juntos ali.
Não está sendo fácil, mas se fosse fácil era miojo o nome né, não mudança!
Vou usar aqui nesse texto como base pra pensar na relação das mudanças com a organização o Modelo de Tim Knosters. Esse modelo é usado para gerenciar mudanças complexas e nos ajuda a pensar no gerenciamento dos desafios de vida. Acredito que ao acessarmos a nossa intuição (percebendo e aceitando as trocas), podemos usar a organização pessoal para que seja possível pensar nos próximos passos e deixar o fluir da vida seguir.
De acordo com Knoster, existem cinco elementos que possibilitam a mudança de maneira efetiva:
Todos os elementos apresentados acima aparecem também na Jornada de Organização. Precisamos de uma visão e propósito para que seja possível priorizar nossas forças e recursos, planejar uma rota, praticar com o que temos, persistir com as habilidades necessárias e se permitir viver os ups and dows do processo.
Parece simples quando a gente olha pra mudança em uma simples lista de 5 tópicos né? Mas a complexidade dessa lista está no encontro desses elementos e esse encontro só acontece com a prática do dia a dia, para que seja possível alinhar essas questões. E sabe como esses encontros ficam fortalecidos? Com atividades de organização, claro!
O modelo de Knoster apresenta uma combinação de elementos para avaliação dessa prática do dia a dia:
Quando todos os elementos estão alinhados, ou seja, respeitando uma coerência e sustentabilidade, a mudança acontecerá. Quando a visão é o elemento que está ausente, a pessoa pode ter toda estrutura do mundo, todas as habilidades, todos os incentivos, planos e recursos, e ainda assim se sentir confusa e perdida sobre o caminho que está trilhando. Nos momentos de mudança de vida, principalmente as grandes mudanças como o luto, uma gravidez ou ainda uma separação, somos levados a questionar esse lugar de visão e propósito em sua essência.
A confusão permanece onde o porquê desaparece. A nossa maior missão aqui no mundo é a cura. De nós mesmos. Do mundo.
Por isso mesmo, qualquer processo de organização pessoal que possibilite uma verdadeira mudança, começa pelo olhar interno, pelo autoconhecimento. É através disso que conseguimos enxergar valores e princípios de vida que nos orientam para um propósito maior, uma visão, que leva a cura.
Para tantos, a mudança gera um nível altíssimo de ansiedade. Posso inclusive me colocar nesse balaio. Porém, a redução da ansiedade pode acontecer quando temos as habilidades necessárias para lidar com a mudança! Cada momento de vida pede novas e aprimoradas habilidades, sejam elas técnicas para um novo emprego, por exemplo, ou emocionais, para continuidade de uma relação. Mudanças pedem desenvolvimento de novas habilidades.
Pais de primeira viagem sabem que precisam aprender a cuidar de um novo ser, imigrantes sabem que precisam aprender a viver em outra cultura e dominar uma nova língua, recém casados precisam aprender habilidades de comunicação e convívio. Enfim…. não nascemos com todas as habilidades necessárias para as mudanças, mas podemos desenvolvê-las se nos organizarmos para isso!
Habilidade vem com prática e rotina sustenta a prática. Na Jornada de Organização começamos com a priorização das atividades do dia a dia e se a mudança é projeto prioritário a organização dará lugar à prática das habilidades necessárias para tal.
Para evitar a ansiedade, aprenda um pouco todo dia sobre o que vai te ajudar na mudança.
Temos que atentar também para as resistências que aparecem diante da complexidade de uma mudança. Essas resistências aparecem quando não há acesso a conquistas e vitórias diante das mudanças. É como ver um projeto difícil que não tem nenhum planejamento, saber que há muito pra ser realizado e nenhum incentivo a curto prazo. Você já passou por isso?
Para evitar a resistência na realização de atividades, precisamos de incentivos! São eles que possibilitam ganho de satisfação e contribuem com o caminho de mudança. Na Jornada de Organização falamos muito sobre revisões, contato com os planos e persistência nos processos.
Ao entrar em contato com seus planos e fazer um pouco por dia é possível gerar satisfação a curto prazo vendo o progresso nos projetos.
Precisamos celebrar pequenas vitórias para caminharmos rumo à grandes mudanças. Quando organizamos nossas atividades, conseguimos não apenas enxergar essas pequenas vitórias mas também ver o quão perto elas nos deixam de nossa visão maior.
É claro que é importante ressaltar que nem sempre temos os recursos necessários para mudança, sejam recursos físicos, financeiros, emocionais… Cada mudança pede um kit de ferramentas para que frustrações não aconteçam.
Acontece que é difícil saber que ferramentas precisaremos a cada mudança né? Não estamos preparados para todas as mudanças da vida! Bem, é aí que entra a organização… de novo!
Uma mente organizada pensa no futuro e age no presente. Uma mente organizada sonha e ao mesmo tempo, cria possibilidades.
Ao longo da vida podemos nos organizar para treinar habilidades e cuidar bem de nossos recursos para que no momento que uma mudança bata a porta, possa-se usar das ferramentas e recursos obtidos, evitando a frustração.
Vou dar o meu exemplo atual. Passando por uma separação, tenho muitos momentos de altos e baixos, porém, como vim praticando muito o auto cuidado com meditação, boa alimentação, exercícios e terapia nos últimos anos, sinto que tenho ferramentas para passar pelos momentos mais complexos como esse com estrutura, enquanto estou encontrando novas ferramentas de acordo com o que estou vivendo.
A gente usa o que tem, fazendo o melhor que pode, para que a mudança nos leve para o próximo degrau da nossa vida.
Por fim, não poderíamos deixar de lado o elemento de planejamento que é essencial para mudança e fundamental para organização pessoal. Sem um plano de ação, sem o pensamento sobre os próximos passos, fica complicado decidir a direção do tempo e da atenção. O plano de ação contém o roteiro detalhado da execução (que pode ser sempre revisto) e com ele pisamos em território mais seguro. A ausência de plano de ação pode gerar a sensação de falso começo ou ainda, de atirar para todos os lados.
Para que a mudança de fato aconteça na sua vida, preste atenção na combinação e na força que está depositando em cada um desses elementos apresentados acima. E claro, tenha paciência com esses processos e também com a melhoria (ou construção) desses elementos. Entenda também que a organização pessoal é o caminho ideal para chegar aos elementos de mudança e práticas em ciclos de vida.
As mudanças acontecem e evoluem em ciclos porque muitas vezes estamos trabalhando em camadas de mudança que exigem mais mudanças, como por exemplo o desenvolvimento de uma habilidade de organização que demanda uma mudança de rotina e distribuição nova de recursos.
Mudança não é coisa de 3 minutos e o Sapiens é doido por uma recompensa imediata! Mas veja bem, não é porque você viu um vídeo perfeito sobre a ferramenta digital do momento que sua vida vai mudar só porque você migrou tudo pra dentro dela. E não é porque tem gente que faz parecer simples que é fácil.
Melhoria contínua demanda análise contínua, imaginação, desenvolvimento de habilidades, controle de recursos, planejamento de ações, reconhecimento de incentivos e saúde, mental, física, energética, emocional. Tudo isso pode ser mantido de maneira simples por um, enquanto é um desafio de construção para outro. O tempo sabe mais. A prática mostra mais.
Você é o designer das suas mudanças, sabe? E as habilidades de um designer envolvem pesquisar, sistematizar, planejar e programar. Todo design tem uma conexão muito forte com o processo das coisas, com o espaço das coisas.
Respeite seu ciclo de mudança, o seu momento de ser designer da sua vida e do seu trabalho. Observe qual elemento está faltando no seu fluxo de mudança. Construir o simples vem com o mergulho no complexo. É por isso que terapia e autocuidado são essenciais! Porque estamos sempre passando por mudanças nos nossos ciclos de vida e precisaremos de suporte para nos auxiliar com os desafios.
Gosto da visão da Antroposofia e da teoria dos Setênios para pensar nos nossos ciclos e entender como que a cada 7 anos, nossas necessidades mudam e por consequência, a visão é mexida, assim como o desenvolvimento de habilidades, recursos, incentivos e plano de ação.
A teoria dos Setênios foi pensada a partir da observação dos ritmos da natureza, da qual todos somos parte. Entender os momentos que estamos passando nos ajuda a perceber o nosso papel no presente e a saber onde devemos focar. Veja quais são os setênios e os desafios que passamos segundo a Antroposofia:
“A vida passa depressa, é dinâmica e, entender melhor esses momentos, poderá trazer certa conformidade e esperança” – Rudolf Steiner
Na vida temos os projetos que planejamos e os que a vida planeja pra gente, por isso mesmo entender o tempo da natureza é fundamental para que possamos nos organizar para as mudanças de cada ciclo.
Quando somos crianças e adolescentes, temos recursos e incentivos fornecidos pelos nossos pais para que possamos crescer. Vem deles também o plano e a visão, enquanto nós vamos desenvolvendo habilidades que usaremos para toda vida.
Nossos primeiros anos nessa dimensão da matéria nos levam a perceber o eu e a autoridade do outro. Crescemos e somos levados ao amadurecimento e entendimento de identidade e passamos a criar visões e planos por nós mesmos, enquanto seguimos crescendo e experimentando limites, encontrando talentos, reforçando habilidades, buscando incentivos e estrutura.
Cada setênio é uma fase. E passar de fase depende de viver os desafios e projetos de cada ciclo. Se uma fase é “pulada” a conta poderá chegar lá na frente. É o tempo da natureza, é a conta da natureza também. Precisamos de clareza dos elementos para passar de fase e só a vivência dos ciclos nos permite isso.
A maioria dos meus clientes e alunos tem entre 28 e 42 anos. Ou seja, são pessoas que estão passando pela fase organizacional e de consciência da vida. É por isso que decidem participar da Jornada de Organização: estão conscientes dos projetos da vida e sabem que essa habilidade (organização) é crucial pra mudança. Está tudo conectado.
Aproveito o papo sobre ciclos para recomendar aqui um aplicativo que foi indicação de um aluno do Laboratório de Produtividade sobre ciclos. Ele usa da linguagem astrológica para mostrar a você os ciclos de vida e seus desafios, tomando como base os trânsitos no seu mapa e também o cenário geral. O nome é The Pattern (em inglês, apenas) e estou adorando usá-lo em minhas análises pessoais de ciclos.
Mudanças de vida são resultados da combinação de alguns elementos, isso você já pegou. Sabe também que essas mudanças acontecem de acordo com os seus ciclos de vida e seus desafios pessoais e como é interessante ter consciência desses ciclos. Acho válido então concluir esse texto trazendo as rotinas para roda de conversa.
Nem sei o que seria de mim nesse momento atual de mudança sem as minhas rotinas, sabe? Elas estão me dando sustento para lidar com o rojão da mudança. Estão me dando força para encarar os desafios, aprender as habilidades necessárias, seguir com o plano de ação e viver o que preciso viver.
Não acredito que a rotina seja algo que congele as pessoas, muito pelo contrário! Acredito que rotinas são caminhos de flexibilidade e liberdade.
Acontece que o conceito de rotina tem uma carga muito pesada em cima, que deve ter sido reforçada com todo conceito da revolução industrial sobre produtividade. A rotina ficou com esse ranço do mecânico, do “tudo igual sempre”. Mas estamos aqui pra quebrar mitos e fazer diferente, não é mesmo?
Você não precisa ter uma única rotina! Você pode ter várias rotinas! Você pode ter uma rotina pra quando acorda cedo, outra pra quando acorda tarde, uma pra priorizar o trabalho, outra pra quando estiver em viagem. Dependendo do lugar onde você está ou da estação que está vivendo, a rotina muda, o sono muda, a alimentação muda.
A sua rotina não é inimiga, ela é o que te permite ter flexibilidade estratégica! A medida certa da rotina vem com a adaptação aos momentos e novamente, a melhor forma de entender esses momentos é observando a natureza.
As estações do ano são ótimas fontes de reconhecimento e formatação de rotinas. A cada estação, com o clima mudando, é possível entender como rotinas pessoais e rotinas de trabalho podem ser adaptadas. Como comentei anteriormente, esse ano estou passando por duas primaveras. Esperava que a essa altura do ano eu estaria no friozinho do hemisfério norte curtindo um descanso e interiorização, mas as curvas e projetos da vida me levaram ao hemisfério sul e seu calor e cá estou passando por mais uma fase de plantio em primavera. Tudo bem. Tem o nosso tempo, o tempo dos outros e o tempo da natureza. Sigo e respeito o fluxo da vida.
Gosto de pensar minhas rotinas de acordo com as estações do ano, por isso a cada momento olho para os projetos de acordo com a lógica de estações:
Olhar esses focos a cada estação me ajuda a pensar no que preciso realizar a cada semana e o que reforçar na minha prática presente, mergulhando no complexo e permitindo a mudança efetiva.
É importante que você reconheça o que leva você a fazer esse mergulho no complexo. Para mim, atividades que se conectam com a mente são fundamentais. Eu sou uma pessoa de ar, muito conectada ao mental (aquário) e por isso os processos com fala e silêncio são os que me conectam ao mais profundo de mim.
Essas são atividades que me ajudam a lidar com as mudanças e que podem ajudar você também:
Todas essas atividades são rotineiras. Com o tempo e a prática elas se tornam ferramentas poderosas que funcionam como recursos para mudanças de vida. Quem conta com tais rotinas, práticas de auto cuidado e desenvolvimento de habilidades, consegue passar pelas mudanças de maneira mais equilibrada e saudável.
Não deixe para pensar em sua organização pessoal apenas quando uma mudança forte aparecer em sua porta. Prepare-se e organize-se para viver grandes mudanças que a vida já tem de alguma forma planejadas pra você e você nem sabe.
Que coragem que dá acreditar no incerto da vida! Se organize e verá.
Participe da Jornada de Organização e viva suas mudanças de maneira equilibrada.